quarta-feira, 3 de junho de 2009

O Fruto e o Amor...



Quem sabe se essa alma fosse um fruto
E dele surgisse uma semente...
E esse grão fosse pão tão somente
Para outro ser se alimentar ainda bruto
Ou fosse sementeiro duma roseira em seu vulto?...
Mas, se ela fruto não chegasse a ser
Uma bela flor já seria
Perfumando de paixão o viver do seu novo dia
Habitando noutro coração que o transformaria...
Porém, se antes dela segui para o além
Nem em flor chegasse
No entanto em folha se enramasse
E da sua palma a água jorrasse
Para a vida do vegetal abastecer...
Esse gesto de carinho
Em gotas e devagarzinho
De amor a plantinha se alimentaria com prazer
Deslizando por seus galhos
Uma seiva como mel desceria
Acariciando cada talo
Que a faria tremer de galho em galho
E noutra folha se ramificaria...
Toda via, se essa planta de solidão que só chora e não canta
Nem uma folha tivesse
E apenas um tronco fosse
Rudimentarmente ao solo se aprofundasse
Até a raiz que a sustentasse
Sentiria a força do fruto que seria...
Por fim, se dessa raiz esse tronco fosse decepado
Destinado acender uma lareira
Depois de ser simplesmente um cercado
Seria como se doar ou ser doado
Ao braseiro que seria a sua vida derradeira
Se fazendo luz num fogo por inteiro...
E no esfriar das cinzas
Como se fosse uma pena e o tinteiro
Um carvão rígido na lapide escreveria
“Aqui jaz um amor que nem chegou a ser flor um dia”...

Júlio Nessin
Publicado no Recanto das Letras em 03/06/2009

http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/1630712